sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Saudade do tempo em que pedalada era “crime de responsabilidade”

Quem diz: Carlos Ranulfo Melo, professor titular do Departamento de Ciência Política da UFMG
A essa altura tornou-se evidente que o afastamento de Dilma não foi o remédio para nossos males. O episódio contribuiu, é certo, para recompor as relações entre Executivo e Legislativo, mas seu impacto foi nulo se considerarmos a crise econômica, o fosso aberto entre a sociedade e o mundo político, e as tensões provocadas pela Lava Jato.
Na economia, as previsões otimistas foram abandonadas. O Congresso aprofundou seu desgaste. E o Supremo, ao relevar a afronta de Renan em nome da “governabilidade”, acabou também pagando o seu preço.
Pior ainda, o presidente da República foi envolvido, juntamente com seus braços direito e esquerdo, e todo o núcleo dirigente do PMDB, no caixa 2 e propinoduto da Odebrecht – pelo seu impacto, a delação vazada deixa saudade do tempo em que pedalada fiscal foi batizada de “crime de responsabilidade”.
Se antes do vazamento a rejeição ao governo havia subido, pode-se imaginar o que vem por aí. De um lado, a turma de verde e amarelo vai ficando sem ter para onde correr. De outro, aqueles que mais dependem do Estado e sua rede de proteção social vão começando a perceber, ao somar a PEC 55 e a proposta de reforma da Previdência, que a conta da austeridade lhes será enviada.

Pergunta óbvia: com que legitimidade políticos envolvidos em tenebrosas transações dirão ao cidadão que ele terá que trabalhar, se houver emprego, e contribuir muito mais para garantir sua aposentadoria?
A crise não vai passar em 2017. Nem sequer sabemos quanto irá durar o governo. Isso vai depender da Lava Jato e dos humores da sociedade, para não falar do TSE. Por isso já se ouve dizer que ruim sem Temer, pior sem ele. Mas se sobreviver, o governo será fraco. Mais ainda, será uma farsa.

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