Por José Arbex Jr.
"Ordenei ao Departamento de Segurança a criação de um escritório encarregado de dar assistência às vítimas americanas (do terrorismo). O escritório terá o nome de Voice (sigla em inglês para Vítimas de Envolvimento em Crimes de Imigração). Estamos dando voz aos que foram ignorados pela nossa mídia ou silenciados por interesses particulares”, declarou o presidente Donald Trump, em sua primeira mensagem ao Congresso dos Estados Unidos, em 28 de fevereiro. A medida, à primeira vista, poderia ser interpretada como uma demonstração de preocupação para com vítimas inocentes. Mas, ao contrário, ela tem um endereço tão certo quanto terrível: isolar e criminalizar as comunidades estadunidenses formadas por hispânicos e islâmicos – segundo Trump, os principais responsáveis por atos terroristas no país e no mundo. Nesse sentido, ela se identifica com uma prática fundamental ao regime nazista durante o período em que a propaganda oficial alimentava o ódio aos judeus.
“Na Alemanha nazista havia um jornal chamado Der Stürmmer, que tinha uma seção intitulada Caixa Postal, para a qual os leitores eram convidados a enviar relatos de crimes supostamente cometidos por judeus. O Der Stürmmer publicava as cartas, que incluíam ilustrações gráficas terríveis dos crimes (...). Assim, a preocupação de focar as atenções num tipo de crime atribuído a um setor específico da sociedade, e depois descrever os membros dessa comunidade como depravados ou anormais é algo que já vimos no passado”, diz Andrea Pitzer, autora do recém-lançado livro One Long Night: A Global History of Concentration Camps.
Em junho de 2015, Trump qualificou os imigrantes hispânicos ilegais como estupradores, narcotraficantes e bandidos. Depois, ao assumir a Casa Branca, tentou fechar o país a imigrantes islâmicos. Finalmente, defendeu a prática da tortura c omo um meio válido para obter confissões, e aventou a possibilidade de instauração de campos de concentração para estrangeiros, invocando como precedente os presídios instalados nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra. Mas não é apenas no trato com estrangeiros não-brancos que Trump guarda profundas semelhanças com Adolf Hitler. A lista é perigosamente longa. Começa por sua interpretação muito particular do “excepcionalismo” estadunidense. Contrariando a retórica tradicional da Casa Branca, que descreve os EUA como um país integrado ao “mundo livre”, com a nobre missão de liderá-lo, Trump adota uma postura isolacionista e agressiva – como fez Hitler, porta-voz da “nação ariana”.
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