Guiomar Novaes – a primeira grande pianista brasileira
Nascida em São João da Boa Vista, cidade do interior do Estado de São Paulo, em 28 de fevereiro de 1894, a pianista Guiomar Novaes se tornou uma das maiores celebridades da música na Europa e nos Estados Unidos no início do século 20.
Filha de Ana de Carvalho Meneses e de Manuel José da Cruz Novaes, Guiomar foi a décima sétima dos dezenove filhos do casal. Iniciou seus estudos de piano aos 4 anos, impulsionada pelo som do piano tocado pelas irmãs mais velhas e esperava que elas deixassem o teclado para sentar-se ao banquinho.
Aprendeu a ler as notas musicais com menos de sete anos, tornando-se aluna de Eugênio Nogueira. Ingressou então, por vontade própria, no jardim de infância, e desde os primeiros dias na escola acompanhava, ao piano, as canções entoadas pelas colegas. Compôs, então, a valsa “Jardim de Infância”.
Vizinha do escritor Monteiro Lobato, já em São Paulo, inspirou a criação da personagem Narizinho, a “menina do nariz arrebitado” do Sítio do Picapau Amarelo. Pouco depois, tocou para o mestre italiano Luigi Chiaffarelli, com quem veio a estudar, apresentando-se nas audições promovidas por ele no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.
Ainda muito jovem tornou-se organista da igreja de Santa Cecília, no centro de São Paulo e, em 1908, fez sua primeira apresentação como profissional, no Rio de Janeiro, executando a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Louis Moreau Gottschalk.
Em outubro de 1909, com o auxílio do Governo do Estado de São Paulo, partiu para a Europa, para estudar em Paris. Ao desembarcar na França, foi convidada a visitar uma compatriota que desejava ouvi-la: a Princesa Isabel, também pianista, que vivia no exílio. Foi a Princesa Isabel quem estimulou Guiomar a manter em seu repertório a obra de Gottschalk, frequentemente interpretada por ela nos recitais que fez no exterior.
Na capital francesa, Guiomar inscreveu-se para prestar provas no Conservatório de Paris. Foi aprovada em primeiro lugar, dentre 388 candidatos para 11 vagas, das quais somente duas reservadas a estrangeiros.
O júri era composto por Gabriel Fauré, Moritz Moszkowski e Claude Debussy, que, quebrando o protocolo, pediu que Guiomar repetisse sua interpretação da Balada No.3 Op.47, em Lá Bemol maior, de Chopin. A respeito da jovem pianista, o compositor escreveu: “Eu estava voltado para o aperfeiçoamento da raça pianística na França…; a ironia habitual do destino quis que o candidato artisticamente mais dotado fosse uma jovem brasileira de treze anos. Ela não é bela, mas tem os olhos ‘ébrios da música’ e aquele poder de isolar-se de tudo que a cerca – faculdade raríssima – que é a marca bem característica do artista”.
No conservatório, estudou com o húngaro Isidore Phillip – que afirmou não ter ensinado nada à aluna e sim aprendido com ela – e formou-se em primeiro lugar, obtendo o Grand Prix. No ano seguinte, 1911, fez sua primeira apresentação oficial em Paris e, logo depois, realizou uma série de concertos na Europa, apresentando-se em prestigiosos palcos de Inglaterra Suíça, Itália e Alemanha.
Em 1913, foi à Suíça, onde visitou o conservatório de Lausanne e realizou vários concertos em Berna e Genebra e, em seguida, retornou ao Brasil, se apresentando no Teatro Municipal de São Paulo e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Guiomar cancelou todos os compromissos na Europa e continuou apresentando-se no Brasil. No ano seguinte, fez sua estreia nos Estados Unidos, tocando em Nova York, Boston, Chicago, Norfolk, Newport e outras cidades norte-americanas, apresentações que marcaram o início de uma carreira imensamente bem-sucedida naquele país, para onde, nas seis décadas seguintes, a pianista frequentemente retornaria para recitais e concertos.
O ano de 1922 foi marcante para Guiomar. A pianista participou da Semana de Arte Moderna – evento que revolucionou as artes brasileiras, marcando a chegada do modernismo – e casou-se com o compositor Octávio Pinto, com quem teve dois filhos. A partir de então, Guiomar passou a incluir nos seus recitais as obras de Villa-Lobos, tornando-se importante divulgadora do compositor nos Estados Unidos.
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